Lingua Portuguesa

Língua e linguagem e a produção de conhecimento no ciberespaço

Por Braz, Glicínia Raquel Feitosa.


Quando falamos ou escrevemos produzimos sentidos. Espécie de dependência entre linguagem e pensamento que forma uma unidade significativa, podemos dizer que o pensamento se manifesta na linguagem. Assim se estabelecem cadeias comunicativas entre as pessoas e isso só é possível, no nosso caso, por causa do nosso código comum: a língua portuguesa. No entanto com a ascensão dos elementos tecnológicos o uso da língua padrão e a interação que gera o conhecimento estão perdendo espaço? Conhecimento e internet é uma relação possível?
            Um das principais características da internet é a liberdade de expressão em qualquer língua(agem) e esta por sua vez está aberta a intervenção de todos nós.Aliada a essa liberdade está a velocidade.E para acompanhar esse ritmo alucinante, a abreviação tem sido uma eficiente estratégia para economizar tempo e apressar o fluxo do pensamento. O internetês é mais uma maneira de usar a linguagem dentre as varias já criadas pelo homem. Ao invés de nos preocuparmos com uma suposta ameaça do internetês ao Português, deveríamos observar a interessante convergência de linguagens realizadas no computador. Além do mais como diz Marcuschi (2004) um fato incontestável e que a internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos textuais fundamentalmente baseados na escrita. Na internet, a escrita continua essencial apesar da integração de imagens e som.
As crianças e adolescentes que dominam as novas tecnologias têm trafegado com facilidade pelas páginas digitais e nelas descobrem formas diferentes de comunicação e interação. Essa garotada está se apropriando de competências e habilidades atualmente fundamentais na sociedade contemporânea sem necessariamente a contribuição sistemática da escola. Essas crianças e adolescentes não estão conscientemente focados na aquisição do letramento digital ou em desenvolver habilidades específicas quando fazem uso do computador. Eles estão primeiramente buscando diversão e entretenimento, mas indiretamente estão se autoletrando digitalmente e assim se preparando para sobreviver no mundo atual em que o virtual tem sido bastante valorizado.
A aprendizagem é um processo de metamorfose permanente, no qual se respeita à identidade cognitiva do sujeito, mas a construção e produção do conhecimento é criativa e coletiva e será sempre transformada por meio do outro, deslocando-se o eixo do quantitativo para o qualitativo.Lèvy discute a possibilidade de uma Inteligência Coletiva, que se constrói no ambiente de rede, mediante uma necessidade pontual dos seres humanos, que intercambiam os saberes, trocando e construindo novos saberes.

"A rede é, antes de tudo, um instrumento de comunicação entre pessoas, um laço virtual em que as comunidades auxiliam seus membros a aprender o que querem saber. Os dados não representam senão a matéria-prima de um processo intelectual e social vivo, altamente elaborado. Enfim, toda inteligência coletiva do mundo jamais dispensará a inteligência pessoal, o esforço individual e o tempo necessário para aprender, pesquisar, avaliar e integrar-se a diversas comunidades, sejam elas virtuais ou não. A rede jamais pensará em seu lugar, fique tranquilo." (LÈVY, 1998:2).

A escola não pode ficar alheia a essas mudanças. Não basta apenas introduzir inovações técnicas na dinâmica escolar, simplesmente por modismo. É fundamental uma discussão sobre a relação que se estabelece entre as tecnologias e o processo de ensinar e aprender, evitando incorrer ou na supervalorização da tecnologia ou na rejeição do novo.


Referências:

LÈVY, Pierre. A Máquina universo: criação, cognição e cultura informática. Tradução Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artmed, 1998.
               MARCUSCHI,L. A. Gêneros  textuais  emergentes  no  contexto  da  tecnologia  digital.  In. MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A. C. (Orgs.). Hipertexto & Gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

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